A Motiva — nova marca da CCR — venceu o leilão da BR-163 em Mato Grosso do Sul nesta quinta-feira (22). Assim, a empresa que está à frente da rodovia há pelo menos 11 anos segue com a concessão bilionária em MS. A CCR foi a única interessada na estrada federal de 845,9 quilômetros, que vai de Norte a Sul no Estado.
Conforme sessão do leilão, a proposta da Motiva foi de R$ 0,07521 por km para a tarifa de pedágio. O valor é o mínimo previsto no edital da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Com o leilão, a rodovia terá menos duplicações em MS.
Ou seja, serão mais 203 quilômetros com duplicação na BR-163 em MS. Também há previsão de 147 quilômetros de faixas adicionais, 28,8 quilômetros de contornos, 55 obras de artes especiais e 23 quilômetros de marginais.
Vice-presidente da Motiva Infraestrutura de Mobilidade SA, Eduardo Camargo, comemorou a vitória — sem concorrentes. “Uma alegria voltar aqui, nesse primeiro evento como Motiva, é uma alegria para nós participar deste primeiro leilão [programa de repactuações]. Me lembro desde o início desse governo, a gente deixou muito claro quais eram as prioridades, as prioridades eram aqueles projetos que tínhamos aplicado para relicitação”, ressaltou.
Além disso, afirmou que “estava todo mundo perdendo, já colocamos mais de R$ 1 bilhão neste projeto, estávamos perdendo usuários da rodovia, porque não estavam vendo investimentos na rodovia”, admitiu.
Contudo, justificou que o contrato novo da empresa será mais elaborado. “Processo muito bem estruturado, ficamos mais de quatro meses indo para Brasília todas as semanas. MSVia foi a melhor solução para o Estado de MS e para o Brasil”, disse.
O vice-presidente afirmou que a Motiva havia desenhado o projeto de rota do Tuiuiú e do Pantanal anteriormente. “São investimentos maiores do que os que estavam previstos”, afirmou sobre o contrato.
Ademais, citou que o cronograma prevê o início do contrato em agosto. Porém, devem adiantar as obras em MS. “Nosso compromisso interno é dar início às obras já no mês de junho. Uma das premissas é: precisamos começar obras imediatamente”. Por fim, disse que “estão todos muito motivados para esse reinício que vamos ter”.
Nesta semana, o Midiamax publicou série de reportagens de dados que mostram os índices de acidentes na rodovia, de concessão da CCR em MS. São 18 ocorrências a cada km da estrada, e os trechos urbanos concentram os incidentes, expondo problemáticas da BR-163.
A CCR é investigada pelo MPF (Ministério Público Federal) por supostas irregularidades na concessão inicial. A empresa é a atual responsável pela concessão bilionária, que deixou mais de 80% da rodovia sem duplicações e soma 18 acidentes a cada quilômetro nos últimos anos.
Instaurado pelo MPF por portaria de 5 de maio, o inquérito apura “supostos indícios de possível irregularidade, em tese, concernente à execução do contrato de concessão firmado em 2014 para a exploração da BR-163/MS, pela CCR MSVia”. Além disso, investiga a “proposta de repactuação da concessão federal, mormente tendo em conta a não realização das obras de duplicação da rodovia, previstas no instrumento”.
A BR-163 em MS, segundo a CNT (Confederação Nacional do Transporte), está em bom estado. Contudo, possui trechos regulares perto da divisa com o Paraná. Ademais, vale pontuar que a pesquisa não considera nenhum dos pontos da rodovia como ótimo na classificação.
Mais de 80% da estrada não é duplicada no Estado. Ao longo dos 11 anos de concessão, a CCR MSVia duplicou 150,4 km dos 845,9 km de extensão da rodovia; ou seja, a concessionária entregou duplicação em apenas 17% da rodovia.
Além disso, vale pontuar que as duplicações pararam em 2018. Foram 86,3 km duplicados em 2015, outros 13,5 km em 2016, mais 38,8 km em 2017 e outros 11,6 km em 2018.
Percebe-se que a maior entrega de duplicação aconteceu logo em 2015, quando a concessionária buscava regularização para início das operações comerciais. Isso porque tinha obrigação da entrega de 10% do total de duplicações previstas no Programa de Exploração da Rodovia.
Então, acelerou a duplicação dos 86,3 quilômetros entregues em janeiro de 2015. Em setembro daquele mesmo ano, começou a cobrar pedágio aos condutores que passavam por MS.
Desde então, a CCR MSVia iniciou obras de duplicação e as mantêm paralisadas no Estado. Os dados são do último relatório mensal da concessionária, disponibilizado pela ANTT em abril de 2025.
Os 11 anos de concessão da CCR MSVia na BR-163 em MS renderam arrecadações milionárias e um número alarmante de acidentes.
Dezoito é o número de acidentes registrados a cada quilômetro da BR-163 em Mato Grosso do Sul desde 2014, período que marca o início da rodovia sob os cuidados da CCR MSVia. Com exatidão, são 18,7 incidências por quilômetro, considerando os 845,9 km de extensão da via que corta o Estado de Sul a Norte.
A matemática é simples: ao longo de 11 anos, mais de 15,8 mil ocorrências foram registradas na rodovia, em um surpreendente resultado que expõe a frequência de acidentes na estrada sob os cuidados da concessionária — que deve renovar a responsabilidade na quinta-feira (22), data do leilão de reestruturação do contrato da estrada.
Assim, a média de acidentes anual é de 1,4 mil. Ou seja, são 119 ocorrências mensais. Se pensarmos em registros diários, são quase quatro ao dia.
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As maiores concentrações dos 15,8 mil incidentes registrados na BR-163, em Mato Grosso do Sul, são em trechos urbanos. Nos últimos 11 anos, o km que marcou maior número de ocorrências tem sido o 485. Placa que sinaliza o km 485 frequentemente é cenário de fundo de acidentes no trecho da rodovia, que passa por Campo Grande e concentra grande fluxo de veículos diariamente.
São 845,9 quilômetros de extensão da rodovia, que passa por todo o Estado. E, em diversos trechos, a estrada ‘corta’ cidades ou contorna o perímetro urbano dos municípios de MS.
A BR-163 possui concessão bilionária da CCR MSVia, que pode renovar a responsabilidade da estrada nesta quinta-feira (22).
Os registros citados são da ANTT, com informações de acidentes por quilômetro ao longo da rodovia. Os dados utilizados para a reportagem têm recorte de outubro de 2014 até janeiro de 2025.
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